MINHA FÉ DUVIDOU
Lutar exige armas e preparação. Toda mudança acontece em meio a conflitos e desconfortos. A comodidade é inimiga do desenvolvimento. Observe que o crescimento profissional requer estudo, dedicação e disciplina. Da mesma forma, o aditamento espiritual implica em conhecer o universo etéreo que nos envolve e praticar os princípios que o regem.
Nós, policiais usamos no ofício, armas de fogo, algemas, tontas, gases e, além disso, estudamos técnicas de abordagens, investigações e defesa pessoal. O conjunto de todo o treinamento se chama capacitação. Quando a necessidade real demanda ação, somos testados e o fracasso ou o sucesso, não importa, deveria sempre nos impulsionar na direção do aperfeiçoamento contínuo, pois disso, depende, muitas vezes, a nossa vida.
Será que nos empenhamos em usar também as armas espirituais das quais sacamos o domínio próprio, a temperança, a mansidão, a fé, a bondade, a compaixão e o amor? Este rol é apenas uma amostra significativa que melhora nossa força interior, altera nossa percepção de mundo e atinge positivamente o ambiente que nos cerca.
Quando entendemos o mundo espiritual adquirimos o ouro da sabedoria e o colirio da sensibilidade e do discernimento. Claro que quanto mais eu busco, mais eu encontro. Deveria ser prioridade de todos a ascensão neste campo tão importante e transformador.
A qualidade de vida pode ser medida muito mais pela paz e pela comunhão com Deus, do que pelos bens que possuímos. A serenidade e o estado de espirito equilibrado não tem preço e não se compara a títulos e cargos sociais. Somos, todos, pobres coitados com diferentes pecados, porém, necessitados do mesmo remédio.
Um dia, em um plantão distante, chegou uma moça negra, bem alta e forte, conduzida por vários policiais militares pela violência física brutal contra sua mãe e sua irmã. A moça aparentava vinte e poucos anos seu semblante estava transtornado. Foi colocada no banco de concreto e algemada ao cano de ferro. Ela se debatia ao mesmo tempo em que tirava a roupa e urinava enquanto gritava e xingava incessantemente.
Vi na moça um amontoado de problemas que se acumularam ao longo dos anos e um descaso com as coisas de Deus. Sua prioridade nunca foi equilíbrio e comunhão, mas drogas, bebidas e prostituição.
Existem outras prioridades que nos afastam de nossa essência. A preocupação exagerada com o ter; os interesses materiais e pessoais preenchendo toda a agenda que ficou sem espaço para a oração e a comunhao; o trabalho à frente da familia; a família antes de Deus.
Cada vez que alguém se aproximava daquela jovem, era rechaçado com chutes e cusparadas, além da expressão demoníaca que estava nela. Nesse dia, a oração foi a arma utilizada, pois a batalha se travava em outra dimensão. Orei a Deus pela misericórdia daquela pessoa e para que retirasse dela a possessão que atentava contra sua vida e a de sua familia.
Cinco minutos foi o tempo que levou para que a jovem se acalmasse, deitasse no banco e adormecesse. Confesso que minha fé duvidou do que aconteceu diante dos meus olhos e dos olhos de todos que acompanharam a cena. Alguns diziam: -cansou! Outros se perguntavam: -morreu? Mas eu sabia exatamente o que acontecera ali.
Encerro aqui, pois já alonguei bastante o texto, mas tivemos que levá-la ao IML e depois para a carceragem e a impressão era de que ela havia tomado um sossega-leão. Levantou-se sonolenta e passou por todas as etapas do processo sem nenhuma alteração. Parecia outra pessoa! Esta história serve como ilustração da imprescindibilidade de se armar com os recursos divinos à nossa disposição e de usá-los em favor de nós mesmos e dos outros. Este é o propósito!
Ronaldo Naves
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