segunda-feira, 11 de julho de 2022

FIM DE PLANTÃO - COLUNA VISÃO, COM RONALDO NAVES.

 




FIM DE PLANTÃO


Uma história bonita e de superação foi a que eu ouvi em um dos corredores da delegacia. Já era fim de plantão quando um colega me perguntou sobre o próximo texto, e eu o desafiei dizendo: 

- dá uma ideia aí!

Ele, então,  me chamando para o lado sua história me contou.. Não imaginava o quão inspiradora ela seria até que ele começou a falar.


Disse que passou uma fase difícil com um diagnóstico de um tumor que apareceu no quadril de sua esposa, mais precisamente no acetabulo que é a concavidade onde a cabeça do fêmur se articula. A notícia caiu como uma bomba sobre o casal, e os próximos dois meses seriam de angústia e ansiedade.


Depois disso, foi feita uma pequena cirurgia para retirada de material para um diagnóstico mais preciso. Mas, o resultado da biopsia, após longos dias, foi inconclusivo e o médico solicitou novos exames e nova intervenção. A tensão era insuportável, haja vista a possibilidade de ser um tumor maligno não ter sido descartada.


Enquanto o colega relatava sua angústia e seu desespero com a situação,  uma coisa me chamou muito a atenção. Ele disse à sua esposa que passariam por tudo aquilo juntos e que ele não a abandonaria jamais e que morreria ao lado dela. Neste momento, seus olhos transbordaram e pude ver o amor daquele homem por sua mulher. Não era mais sobre uma doença que falávamos, mas sobre o amor. Dali para frente, minha atenção redobrou e minha expectativa cresceu ainda mais para saber o final da história. 


Ele limpou as lágrimas e disse que ainda se emociona quando relembra o drama. Contudo, foi uma reação natural de quem ama e sofre por quem ama. Hoje em dia, o casamento perdeu a sacralidade para muita gente e o compromisso de estar ao lado na saúde e na doença já não faz tanto sentido. Meu amigo me mostrou ser uma só carne com sua esposa, reforçando a aliança, talvez, no momento mais dificil de suas vidas.


O segundo diagnóstico saiu e o médico disse que a lesão não estava mais lá e as imagens mostravam somente uma inflamação, a qual seria tratada com medicamentos. Nao havia mais razão para se preocuparem. A alegria dele ao me contar a remissão total do tumor foi apenas uma amostra do alívio que eles sentiram no consultório médico. Tirou o mundo de  suas costas e o colocou no chão. 

Abri um vinho -disse ele- e tomei  com minha esposa, comemorando e celebrando sua vida.


Senti-me aliviado com o final feliz daquela história de amor, também, fiquei imaginando a prova gigantesca pela qual os dois passaram. Ela serviu para fortalecer ainda mais os laços entre o casal e sua fé em Deus.

O plantão terminou mais bonito e mais suave já que Deus, no último minuto, me presenteou com o exemplo de uma aliança abençoada. Espero que o caso sirva de incentivo aos que pensam em desistir quando as tempestades chegam. Fiquem no barco e coloquem Deus nele também. Ele dirá ao mar bravio, AQUIETA-TE! Foi isso que Ele fez nesta história!


Ronaldo Naves

segunda-feira, 4 de julho de 2022

32ª DP (SONHOS DESFEITOS) - COLUNA VISÃO, COM RONALDO NAVES.






 32° DP 

SONHOS DESFEITOS




Por RONALDO NAVES.



O dia foi agitado como há muito eu não via. Samambaia resolveu colocar seus problemas em forma de ocorrência e escolheu o dia 24 de junho para fazer isso. Infelizmente ou feluzmente, ainda não sei bem definir o fato, eu havia marcado meu serviço voluntário na 32° DP. Foram 12 ocorrências registradas por mim entre 11h30 e 19h30.


Vi, neste dia, muito choro e desalento, mas um choro me chamou mais a atenção. Era o de uma jovem mãe que chegou decidida a fazer alguma coisa sobre a história que ela iria contar. Sisuda e nervosa, começou dizendo que o pai de sua filha de 4 anos, não dava a mínima para a menina. Que ela tinha muito dó da coitadinha que de uns tempos para cá, reclamava quando tinha que ir para a casa do pai. 


Perguntei por quanto tempo ela ficou casada com ele, quanto tempo haviam se separado e qual era a constância que ele pegava a filha pra passar o tempo com ele. Ela respondeu que não chegaram a se casar e que o conheceu e na primeira vez que ficaram, ela engravidou. Falou com a voz embargada que quando ele soube da notícia, disse que ela havia acabado com sua vida. Descobri que ele é um monstro, disse ela explicando o porquê:

 - Ele está com outra mulher que tem um filho de outro relacionamento e disse que o pai do menino não liga para ele, então, por que ele teria que ligar para filha?

Neste momento, as lágrimas escorreram por trás dos óculos. Havia uma entonação nas palavras que me fez perguntar se ela ainda gostava dele. Ela respondeu que sim, e era este o motivo de estar sozinha por 5 anos. 

- Já apareceu muita gente, mas resolvi dedicar a minha vida para a minha filha. Ela outro dia me contou que o papai beijou a mulher na boca. Agora até isso ele tá fazendo na frente da menina, disse ela indignada.


Escutei muito tempo os lamentos da jovem que chorava toda vez que sentia que seus sonhos estavam sendo vividos por outra pessoa. Ela repetia sem perceber a frase: 

"como pode alguém trocar a filha por uma aventura com uma mulher."

No fundo, a criança era ela e ela se sentia abandonada, trocada e desprezada pelo homem que ainda amava. 


Perguntei o que ela queria ali na delegacia. Ela disse que não queria entregar mais a filha para ele, pois ele a deixava sozinha assistindo televisão, sem carinho, sem atenção.

- A Luísa (nome ficticio) está fazendo xixi e cocô nas calças e isso não é normal, contou chorando.

Sugeri que ela a levasse a um psicólogo e ela disse que já havia marcado com o dela e que também a levaria ao psiquiatra com o qual fazia terapia.


Por fim, e após muitas histórias e choros sentidos, aconselhei que ela se distanciasse do pai de sua filha e buscasse viver a vida sem depender da atenção dele. Que a relação seria mais saudável para a menina se ela (mãe) não fosse tão afetada pela conduta do "monstro". Deixe sua filha conviver com o pai se ela quiser e ele também, do contrário, supra as necessidades dela com amor e equilíbrio, acrescentei.




Não se pode obrigar alguém a dar o que não tem, e o amor não fazia parte do repertório do rapaz, não com relação a elas. O melhor é identificar logo o problema, aceitar a realidade e se livrar das fantasias de uma relação improvável. Seguir em frente com uma proposta nova, uma mente aberta e um coração voltado para Deus e suas infinitas bênçãos. A filha dela era uma prova viva do amor de Deus. Acredito que quando Ele fecha uma porta, outra maior se abrirá para nós. Contudo, precisamos deixar para trás o que para trás ficou. Alimentarmos sonhos fracassados faz com que fiquemos presos a eles e estagnados no tempo.


Sem tempo para mais delongas, pois outras pessoas aguardavam ansiosas pelo atendimento, despedi a moça que agradeceu as palavras e foi embora sem o registro da ocorrência, mas espero que a ida dela até a delegacia tenha retirado de seus olhos, o véu da cegueira deliberada de um amor inventado que só existia no seu imaginário. Espero que suas lágrimas sequem antes que seu coração endureça e não haja mais espaço para um amor de verdade!



Pedido de ajuda

A AgPC aposentada Fernanda pede doação de sangue para sua mãe. Fernanda, que é casada com o também agente Klever, aposentou-se a alguns ano...