segunda-feira, 5 de setembro de 2022

ALÉM DA VISÃO ESTÁ O AMOR - COLUNA VISÃO, COM RONALDO NAVES.

 ALEM DA VISÃO ESTÁ O AMOR




Ganhei um abraço significativo, forte e suplicante ao abrir a porta do cubículo da viatura da polícia militar. Vou discorrer sobre o que aconteceu no plantão de sábado à noite. O dia por si só já diz muita coisa, pois as baladas estão a todo vapor e os excessos logo se apresentam. Bebidas, drogas, sexo e muita, mas muita confusão. 


Foram 4 autos de prisão em flagrante e 3 termos circunstanciados que movimentarem escandalosamente a noite na 1° DP. Parecia que o 4°BPM  estava em peso no estacionamento da delegacia. Porém, a história que culminou no abraço não faz parte de nenhuma das ocorrências registradas. 


Na verdade, estávamos todos em atendimento quando ouvimos gritos e batidas do lado de fora da delegacia. Inicialmente, ficamos parados e atentos para entender o que se passava, mas os berros aumentaram e, então, corremos para verificar o motivo da histeria. Encontramos, no meio do caminho, um senhorinha de 80 anos, uma de suas filhas e seu marido. Paramos ali para conversarmos e tentar entender a história. Nisso, a bagunça continuava dentro da viatura parada um pouco mais à frente.


 A senhora disse que sua outra filha, a que estava dentro do cubículo, é alcoólatra e usuária de crack. A outra filha, que estava com o marido, disse que sua irmã havia quebrado a estante de sua mãe e mais um monte de coisas lá na casa dela. O genro completou a relato dizendo que ela estava a 2 semanas na casa de sua sogra e que antes ela estava morando na rua. 


O colega foi até a viatura tentar dialogar com a mulher enquanto permaneci ali com a família e alguns policiais. Daí um tempo ele volta e diz ser impossível conversar com moça, tamanho o descontrole dela e o nivel de embriaguez que ela estava. Senti vontade de falar com a moça como se algo me empurrasse na direção dela.


Quando parei na frente dela, imediatamente ela parou de gritar e pediu que eu a tocasse, colocando seus dedos na grade que a prendia. Coloquei minhas mãos ali e perguntei seu nome. Ela conversou como se estivesse enxergando algo extraordinário além de mim. Disse que a soltaria com a condição de permanecer naquele estado pacífico e sob a promessa de que não voltaria para a casa de sua mãe. Ela concordou, mas disse que queria me dar um abraço antes de tudo. Abri a porta da gaiola e foi aí que recebi o abraço significativo, forte e suplicante do início do texto. 


Chorava enquanto abraçava e disse ao meu ouvido que o que estava em mim era bom. Pedi várias vezes que me soltasse, mas parece que ela abraçava algo mais que só ela via. Alguns podem fundamentar sua atitude pelos efeitos das drogas, mas não creio nisso, haja vista que estas mesmas drogas a levaram ao estado anterior, selvagem e descontrolado. O que ela viu, seja o que for, a acalmou! Depois de um tempo, soltou e disse que eu havia salvado a sua vida. Disse a ela que pedisse perdão à sua mãe e à sua irmã antes de ir embora. Ela ainda chorava enquanto se despedia. Foi tentar uma vaga no albergue juntamente com um rapaz que dizia ser seu namorado.


Antes de qualquer inferência precipitada sobre tudo isso, gostaria de esclarecer que não atribuo nada do que aconteceu à minha pessoa. Tenho consciência da minha pequena estatura espiritual e me considero entre os pecadores, o pior de todos. Talvez, por isso, oro continuamente suplicando pela misericórdia de Deus e, ao mesmo tempo, me coloco à disposição dele, como vaso de honra, para que Ele faça sua vontade em mim.


O registro da ocorrência não foi feito, pois sua mãe assim o quis. Conversei com elas, após todo o ocorrido e pedi que elas a levassem à igreja. Elas disseram que já haviam tentado, mas, sem sucesso. Insisti que tentassem mais uma vez, afinal, o que seria de nós se Deus, mediante a nossa história, desistisse de enviar Jesus. Ele veio para os doentes, os cegos, coxos e paralíticos espirituais. Enfim, Ele veio pra mim, pra você e para aquela moça viciada que quebrou a casa de sua mãe. Por quê? Não sei ao certo, talvez seja apenas e simplesmente por amor (incondicional)!


Ronaldo Naves

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